Mensagem Original de João Timbalão
Se a vida dum músico é difícil, sendo esse músico baterista é duplamente difícil.
Todos nós sabemos o que é ter tantas peças para organizar, transportar e montar. Mais membros para treinar e coordenar. Mais trabalho antes e depois de ensaios e concertos, etc.
O esforço mental mas principalmente físico é enorme e incompreendido pela maioria das pessoas e até dos nossos colegas de outros instrumentos. E é pesado e perigoso a ponto de pôr a nossa vida em risco.
O nosso jovem camarada de armas Filipe Marujo, querido amigo de muitos entre os quais me incluo, não resistiu a tal violência e faleceu no início de Julho vítima dessa carga física.
Era o filho mais novo dum experiente e conceituado baterista, proprietário da melhor loja de baterias em Portugal, a Tamborarte, onde o Filipe exercia o cargo de gerente/vendedor exemplar.
A ideia de montar a loja foi do pai pela sua experiência, internacionalização e inconformismo com a insuficiente resposta que era dada aos bateristas nacionais em termos de material. Quem ultimamente geria, coordenava e mantinha a loja activa era o Filipe. Foi o primeiro vendedor que em Portugal me deu luta e verdadeira assistência – tinha ou arranjava tudo o que eu precisasse e sabia tudo sobre o material, marcas e modelos, aplicações sonoras e estilísticas, enfim, um verdadeiro especialista bem informado e sempre actualizado. E isso nem seria nada do outro mundo se ele não fosse igualmente um miúdo maravilhoso, simples, afável, seguro mas nada arrogante, aberto e honesto, amigo, prestável e generoso.
Para lá da incompreensível dor e perda insubstituível para a família, foi igualmente para mim e para todos os que o conheciam, clientes, fornecedores, colegas e amigos, um choque brutal.
O Filipe trabalhava afincadamente na loja, pensando sempre para a frente e com o intuito de prestar o melhor serviço, mas era igualmente baterista, como o pai e o irmão mais velho, tocando regularmente com o seu grupo de baile.
Uns dias antes o pai tinha-lhe dito para ter cuidado pois a sua fraca compleição física de magriço não lhe dava grande segurança para o desgaste que era gerir a loja e tocar cinco ou mais horas seguidas com a banda, incluindo transportar, montar, desmontar e conduzir a carrinha com o material. Uma verdadeira violência que ditou a sua sorte.
Foi depois duma sessão de maratona musical de baile que, ao voltar para casa de madrugada, adormeceu fatalmente ao volante, exausto.
Deixou, no entanto, muita coisa boa. A sua memória ficará para sempre comigo.
Tinha muitas histórias ilustrativas do seu carácter para contar mas vai ficar para uma outra ocasião. Por agora senti a necessidade de apenas deixar aqui uma devida e sentida homenagem.
Também aos pais e irmão que, apoiados na memória do Filipe e na ajuda dos muitos verdadeiros amigos que só as boas pessoas têm, conseguem seguir para a frente com a vida e a actividade musical, didática e comercial que fazem como poucos.
Até um dia e obrigado, Filipe...
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