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Não lido Ter, 8 de Junho de 2010   #31
Alex RSantos
 
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Alex RSantos está no bom caminho
Re: PRATOS – Dicas para uma correcta Escolha e Teste

Boas

Antes de mais elogio o resumo sobre as características dos pratos. É excelente para quem se inicia nestas andanças treinar ouvido, isto é, saber o que procurar ou entender o que tem lá em casa. Também acho importantes a sala, os suportes e as baquetas na avaliação dos pratos. Muito bom artigo.
Sem querer entrar em polémicas, e no sentido de ajudar quem está a iniciar, queria mostrar outro lado da questão da escolha dos pratos. Uma perspectiva segundo dois vectores fundamentais:

1. Para que é que eles servem - os pratos perante o resultado final, que é a música.

2. A música é também uma actividade económica. O instrumentista tenta convencer o público a ouvir (e pagar) a sua música, enquanto é convencido pelas casas a comprar instrumentos. As construtoras de instrumentos não ganham dinheiro com os virtuosos - ganham-nos com as imensas legiões de medíocres que estão constantemente à espera de novas soluções que aparentem esconder a sua mediocridade por detrás do material. Escolhem objectos de culto e não instrumentos de trabalho, como se a posse dum prato igual ao do Potnoi, fosse trazer um bocadinho do virtuosismo do Potnoi... E por isso compram e continuam a comprar sem conseguir nunca um resultado final satisfatório.

Voltando aos pratos:
Os pratos não servem só para fazer música: os pratos na sua dimensão, cor e disposição compõem um conjunto estético que é a bateria, que por sua vez é um elemento decorativo fundamental no palco. Desde o mais escuro bronze, ao branco, preto e metalizado, tem havido pratos em imensos tons que, em conjugação com a cor e o tamanho do set, decoram o palco e predispõem o público para aceitar determinado tipo de música. Portanto, os pratos também são uma moda, que importa aderir ou rejeitar segundo as nossas conveniências.

Todas essas cores e formas serviram para produzir sons que ainda hoje se ouvem. É possível fazer a vossa música de imensas maneiras... Portanto, quando vamos comprar pratos, queremos um conjunto que impressione o público, e que também nos impressione a nós - a auto-sugestão é meio caminho andado para o sucesso.

Ir a uma loja escolher pratos é, normalmente, um ritual um bocado estúpido: Primeiro, vamos influenciados pelas escolhas deste ou daquele artista. Depois somos restritos ao material existente na loja (e à nossa carteira). Estamos num espaço aberto, cheio de ruídos, com reverberações em frequências esquisitas, e dão-nos um suporte qualquer. Tentamos fazer um ar entendido, enquanto o vendedor tenta fazer um ar complacente, e de lá saímos com mais um disco de metal e menos dinheiro na carteira.

Verdadeiramente descobrimos o prato em duas fazes: quando o começamos a tocar na sala de ensaios, e quando ouvimos a primeira gravação feita com ele. Os resultados nem sempre são bons.

Portando, se precisamos de um prato, ou conjunto de pratos para uma gravação (e não temos estúdio que os alugue, que para mim é muitas vezes a melhor opção), devemos fazer aquilo que normalmente ninguém recomenda: ir à net e ouvi-los, em sample. A riqueza tímbrica do prato perde-se, mas é isso mesmo que pretendemos (a menos que toquemos jazz ou solos sem acompanhamento).

Para uma gravação (falo de hard-rock e heavy-metal, em especial) pretende-se antes de mais saber o volume que o prato atinge. Como normalmente é alto, o nosso ouvido não o consegue avaliar correctamente - "fecha-se" a volumes altos, como um compressor. Queremos um set que ao ser gravado, não dê muito trabalho ao técnico de som (que normalmente, por virtude do nosso orçamento é mau). Se eles forem equilibrados no volume, a gravação vai sempre sair muito melhor do que com muitos pratos escolhidos a dedo, mas com projecções e volumes muito diferentes.
Rides e choques fechados, devem ter mais ou menos o mesmo volume, quando tocados de forma "standard".

Falando ainda em volume, ele vai decair a uma velocidade inversamente proporcional ao tamanho e à espessura (em princípio, mas nem sempre). Mais do que escolher timbres (que vão ser abafados pelos outros instrumentos), interessa-nos escolher sons em função da "duração". Abaixo dum certo volume, os outros instrumentos abafam. Acima, não os deixam ouvir. A "duração" é fracção de segundo em que o prato ocupa uma gama de frequências num volume superior aos outros instrumentos. Ele continuará depois a soar, mas vai deixar de se ouvir. Queremos sons que "durem" o tempo necessário para notarmos a sua presença, mas sem retirar o lugar dos outros. Imaginem um set em que, para ouvir o splash, temos de subir tanto o ganho dos overheads, que quando tocamos o crash, deixa de se ouvir a banda...

Aqui está a ajuda que nos dão as marcas e as séries. Elas são feitas para nos ajudarem neste ponto (e também no timbre, mas já lá vamos).

Acabei de dizer que nos interessava ouvir um prato desprovido da sua riqueza no timbre: é verdade, porque ela perde-se em grande parte na mistura, e na falta de qualidade das aparelhagens comuns. Mas também é verdade que quando há grandes desarmonias se torna muito irritante. O timbre está quase sempre contra nós - não o ouvimos quando achávamos que é espectacular e ouvimo-lo constantemente quando é mau. Daí a importância de jogar pelo seguro.

Quando um xico-esperto passa horas numa loja de música a incomodar os empregados e a desarrumar a loja toda em busca do prato perfeito, normalmente está a ser apenas isso - xico-esperto. O seu momento de glória é a compra do prato - não a performance musical.

Tanto os kits de iniciação como os endorsments acabam por ser selecções de pratos dentro duma só marca e com uma certa coerência. (Entre o iniciado e o patrocinado é que situa o xico-esperto escolhedor). Vocês não são o Terry Bozzio! Não vão conseguir construir, nem gravar decentemente, baterias tonais. O que querem é sets práticos e versáteis, que sejam fáceis de micar e de gravar, que vos permitam um resultado final que, sem ser brilhante ou avassalador, seja suficientemente credível para arranjar um patrocínio.
Pragmatismo acima de tudo. Escolham uma série em função do tipo de música que tocam (ex., dentro da zildjian - z para rock/heavy, a para pop, e k para pop /jazz) e mantenham-se nela. Façam uma ou outra escolha fora, se vos apetecer, mas não fujam muito. E apeguem-se aos tamanhos standard.

(Embora use Zildjian, não recomendo, por princípio - os Sabian normalmente são mais "secos", menos melódicos, e por isso mais fáceis de tocar e de gravar. Quanto às outras marcas, sei que os há bons (ex. Istambul) mas não os conheço suficientemente bem. Mas no fundo qualquer marca dá - desde que se sigam as directrizes essenciais.)

Não temos de dar a entender que somos mestres nas escolhas de pratos quando, ou não somos, ou não temos condições para isso, ou nem sequer vale a pena!

Resumindo:

Os pratos têm de ser bonitos.
Os pratos têm de ser equilibrados e coerentes - graváveis e audíveis: estarem lá mas não chatearem...

Não entrem em labirintos devoradores de carteiras.

Boas escolhas!
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