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Não lido Ter, 7 de Novembro de 2006   #1
Felipe Basilio
 
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Felipe Basilio está no bom caminho
[Entrevista] Anthony King - Baterista norte-americano a trabalhar no Brasil

Entrevista com Anthony King

por Adalberto Brajatschek (Magoo) - 01/03/2006

Anthony King é um baterista Americano que se apaixonou pelo Brasil. Desde a sua primeira visita, ele tem se mostrado muito empolgado com nossa cultura. Anthony vem nos trazendo valiosas informações, com muita seriedade e competência. Está trabalhando também para divulgar a marca de várias empresas brasileiras. Seu principal recado é que acreditemos mais em nós mesmos e em nossa cultura. É com grande satisfação que contamos com sua colaboração e experiência.

SB: Quando você veio para o Brasil pela primeira vez e como rolou esta idéia?

AK: Eu cheguei em São Paulo pela primeira vez em 1998 depois do lançamento do CD Plugged de Mello Jr. No começo de 1997 fui contatado por um grande amigo que era diretor musical da turnê de uma banda fora de New Orleans, eles dispensaram o baterista logo depois que chegaram do Brasil. Eu terminei os dois últimos meses da turnê. O guitarrista da banda era um jovem músico brasileiro chamado Mello Jr. Cerca de uma semana antes de terminar a turnê Mello Jr. me disse que estaria gravando seu primeiro CD solo e gostaria que eu gravasse algumas faixas. Eu disse a ele para me enviar uma cópia com as idéias no formato ADAT que eu poderia gravar as partes de batera num estúdio da Califórnia. Ele me enviou 5 tracks, eu fui a um estúdio e gravei a parte de bateria e mandei de volta para ele. Dois meses depois ele me ligou me convidando para visitá-lo e tocar com ele no Brasil. Em fevereiro de 1998 eu parti para São Paulo, onde fiquei dois meses. Desde 1998 tenho visitado o Brasil todo anos.

SB: Quais foram suas primeiras impressões? Algo mudou depois que você conheceu melhor nosso povo e nossa cultura?

AK: Tenho que ser honesto com você; minha primeira impressão do Brasil não foi como eu achei que seria. Eu estava esperançoso em encontrar mais atividades na cultura brasileira, mas ao invés disso eu percebi uma grande influência Americana e Européia. Bem, grande parte disso é devido ao estilo das pessoas que tive contato na minha primeira visita. Mello Jr. era um guitarrista de Rock, que adora Steve Vai, Eddie Van Halen, Joe Satriani dentre outros. Então eu não vi muito da verdadeira cultura brasileira que eu estava procurando até que comecei a buscar por mim mesmo. A primeira pessoa que encontrei foi o grande amigo Marcus Aflala que fala inglês muito bem e me levou para ouvir Forró e Samba de Big Band. Eu estava maravilhado com as histórias que ele contava enquanto eu assistia as bandas. Depois, através de Mello Jr. eu conheci Philip Colodetti que me levou para conhecer o Carnaval; sua esposa Luciana Colodetti me levou para conhecer uma banda de Pagode e eu me apaixonei pelo Brasil. Mais tarde eu conheci Douglas Las Casas. Ele me ensinou vários ritmos brasileiros como Samba, Axé, Forró, Pagode e muitos outros. Douglas é mais que um amigo, é um irmão. Ele é um dos caras mais humildes que eu conheço e sua esposa, a Paula, que é uma super dançarina me levou para ver sua apresentação de Forró e Lambada. É realmente incrível!

SB: Muitas pessoas no Brasil acham que os músicos brasileiros são mais focados no “feeling” enquanto que os Americanos, Caribenhos e Europeus focam mais a parte técnica com um estudo super disciplinado. O que você tem a dizer sobre isso?

AK: Tudo depende do tipo de música que você está escutando e de quem está tocando. Muito da música Americana como o Gospel, Rock n Roll, Blues, Funk, Soul e Hip-hop vêem dos Afro-Americanos que na maioria dos casos não estudam porque não podem bancar um professor. Estes músicos tocam o que sentem e o que está em seus corações, muitas vezes baseados no que eles ouviram desde crianças, e adaptam isso ao momento presente. Foram os “músicos brancos” que criaram a música (em termos de teoria) e a colocaram no papel em forma de partituras porque não podiam compreender o feel, eles compactaram tudo isso e criaram algumas regras e as chamaram de Técnica. Era uma maneira de demonstrar ou explicar o que eles ouviam. Com o passar dos anos os “músicos negros” começaram a estudar, não para aprender a tocar, mas para serem aceitos pelos brancos que controlavam os clubes, estúdios e estações de rádio. Aqui vai um bom exemplo: Eu estudei numa escola por seis meses antes de ser chamado para fazer uma turnê, quando tinha cerca de 19 anos de idade. Eu me lembro do professor ensinando o Samba Jazz. O engraçado foi que quando eu encontrei o Douglas pela primeira vez ele me pediu para tocar o Samba e eu toquei o que eu achava que era Samba. Ele riu muito e eu pensei “Maldito Steve Gadd você mentiu pra mim!". O que eu quero dizer é que o que é mostrado para nós lá fora como Samba, na verdade não é o verdadeiro Samba e sim uma interpretação “equivocada” do que está no papel. Meu conselho aos bateristas brasileiros que querem aprender o Jazz, Funk, hip-hop e outros estilos Norte Americanos é que vocês usem primeiro seus ouvidos e tentem compreender e sentir o que vocês estão escutando.

SB: Há aqui também um pensamento que a vida dos músicos fora do Brasil é uma maravilha, e costuma-se reclamar muito da nossa situação. Como você vê o mercado musical mundial e qual sua opinião sobre o mercado brasileiro?

AK: Quando eu dou workshops no Brasil para os jovens eu digo a eles as verdades sobre como é a vida de um músico Americano. Para se obter sucesso não há diferença entre músicos Americanos e Brasileiros. Primeiro você tem que definir o que é sucesso para você e não para os outros. Por exemplo, eu tenho um amigo chamado Jeff "JL" Langan; ele não consegue tocar solos imensos como Dennis Chambers. Também não tem os anos e anos de estudo com um professor particular. Jeff é um percussionista autodidata que aprendeu como tocar bateria, e o que ele sabe é tocar grooves legais e manter muito bem o tempo. Ano passado Jeff trabalhou com duas bandas e, por um ano inteiro tocou 5 noites por semana e, toda sexta, sábado e domingo ele tocou com as duas bandas em diferentes clubes de cidades distintas. Ele tocava com uma banda das 17:00 - 20:00, pegava suas coisas e dirigia até o próximo clube onde tocava das 22:00 - 1:30. Fez isso durante um ano, três noites por semana. Num dia tocava Funk noutro dia tocava Reggae e assim por diante. Isso é o que eu chamo de sucesso, porque ele tocava 8 vezes por semana durante um ano inteiro. Muitos músicos acreditam que sucesso é fazer uma turnê mundial, aparecer na TV, na MTV, aparecer em vídeos e conseguir patrocínios. Isso é apenas uma pequena fatia do sucesso, e ainda tem a pior parte que é a que você tem o trabalho enquanto o artista que você acompanha está em alta, porque o tempo de sucesso dele é demarcado e quando acabar você terá que procurar emprego como todos procuram. Se a sua banda está gravando e tocando, de certa forma você é um sucesso. Se você estiver aberto a novos estilos musicais terá muito mais chances de trabalho e por muito mais tempo, mas se você só conhece um estilo diminui suas chances.

SB: Você tem uma grande experiência gravando e tocando com artistas famosos. Qual a grande diferença em tocar numa banda de garagem e tocar numa banda famosa?

AK: Depois que Rosie Gaines deixou o Prince e o The New Power Generation para começar sua carreira solo ela fez testes com centenas de músicos e eu recebi um telefonema de um amigo que era diretor musical dela me convidando para fazer o teste também, mas para ser o percussionista da banda da Rosie. Fui honesto e falei para ele que embora fosse uma grande oportunidade, eu não poderia fazer o teste porque não sou percussionista; se ela precisasse de um baterista estaria à disposição. Ele retornou uma hora mais tarde e pediu que eu gravasse uma fita demo e a enviasse para Rosie Gaines o mais rápido possível. Então eu aluguei um estúdio por uma hora e gravei alguns grooves em diferentes estilos que eu havia aprendido. Uma semana depois ela me ligou e me convidou para entrar na banda. Uma das primeiras lições que eu aprendi foi como tocar com uma banda séria, pois ela havia acabado de sair de um trabalho de 4 anos de shows e gravações com o Prince e seus padrões eram super altos. Rosie não tolerava erros e uma vez me disse que erros acontecem quando você não presta atenção ao que está fazendo! Eu aprendi como escutar todos os instrumentos em uma música e me lembrar do que todos os músicos estavam tocando, desta maneira eu sei o que tenho que fazer e faço correto já na primeira vez. A diferença entre tocar com uma banda internacional e uma banda comum local é que as bandas pequenas não têm um padrão muito alto quando estão trabalhando. Eles já esperam os erros e não tentam melhorar seu trabalho. Numa banda séria de maior porte eles vêem a música como um meio de vida, onde apenas os melhores sobrevivem. As bandas de garagem acreditam que alguém vai aparecer no show e “descobri-los”, eles também dão ouvidos somente às pessoas que dizem que eles são o máximo! Este é um falso senso de sucesso porque estas pessoas nunca entendem que se conhecerem suas fraquezas, poderão se superar e tornar-se melhores.

SB: Que habilidades um baterista deve ter para encarar um trabalho profissional?

AK: Ele ou ela deve ter uma atitude muito profissional, deixar todos os problemas pessoais fora da música, estar aberto a novas idéias, e ter um conhecimento de som, equipamentos e dinâmicas.

SB: Qual a melhor maneira de se manter motivado?

AK: Ouça diferentes estilos de música, trace objetivos para o futuro e mantenha o foco no que você tem que fazer.

SB: Hoje em dia temos uma gama muito grande de material didático como métodos, DVDs, CDs, play along, etc. Fica fácil para um estudante se perder no meio deste material todo e esquecer quais os aspectos fundamentais da música. Você poderia nos mostrar um bom caminho a seguir? Quais os aspectos mais importantes para se estudar?

AK: Tudo isso depende do que você quer fazer com a música. Algumas pessoas gostam de estudar e conhecer a música através dos livros. Isso é importante se você quiser ser um professor. Ouvir CDs ajuda você a melhorar sua linguagem. Os DVDs ajudam você ver o que seus bateristas favoritos fazem para criar o som que você admira. Hoje, com a Era dos computadores, você pode ter tudo o que deseja ouvir e ver; o aprendizado está na ponta dos seus dedos, tudo depende do que você quer fazer e se você compreende o que quer fazer.

SB: Esta não é uma pergunta; é um “espaço aberto” para você comentar o que quiser. Pode ser um conselho, um puxão de orelha, uma sugestão. Fique a vontade.

AK: Eu gostaria que os bateristas brasileiros soubessem que como músico você tem uma situação muito melhor no Brasil do que aqui nos EUA. Muitos dos meus amigos brasileiros não acreditam quando eu falo isso. Veja um exemplo: eu fiquei dois meses em New Orleans. A média do cachê de um músico no Bourbon Street tocando 8 horas por noite é de $100.00 e se a noite for legal, ele ganha mais $100.00 em gorjetas. 8 horas é o mesmo que um dia de trabalho num escritório, então $100.00 por 8 horas de trabalho não é muito dinheiro. Na Califórnia a média do cachê de um músico é de $100.00 por um total de 3 horas, mas se o show é longe da sua casa, você gasta $25.00 de gasolina, $10.00 para comer, e tem que sair 3 horas antes para montar o equipamento e checar o som, o que dá um total de 7 horas por menos grana do que o músico de New Orleans. Muitos Americanos não apoiam a música ao vivo e preferem DJ's, a vida para um baterista pode ser bem difícil a menos que você toque em duas bandas ou mais, de forma que você toque muitas vezes por semana, ai a grana é boa. Se eu fizer um show aqui na Califórnia com minha banda, teria sorte se 40 pessoas fossem nos assistir. Em São Paulo quando estive no Bourbon Street tivemos pelo menos 700 pessoas toda noite para nos ver, e as pessoas realmente curtem a noite. No Brasil há milhões de pessoas que gostam de se divertir, você só tem que manter a sua banda boa o suficiente para cativar o máximo de pessoas que puder. Brasil é um lugar maravilhoso para tocar e eu adoro voltar todo ano para dividir isso com vocês.

SB: Muito obrigado Anthony King por reservar um tempo para nós. Você é sempre bem vindo ao nosso site e ao nosso país. Precisamos de pessoas como você para nos ajudar a quebrar as barreiras culturais e os preconceitos que, inevitavelmente, se formam.

AK: Obrigado a vocês e se tiver algo que eu possa fazer para ajudar, minhas portas estarão sempre abertas, adorarei responder a qualquer pergunta.
Felipe Basilio não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qui, 18 de Junho de 2009   #2
Vicfirth5a
 
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Mensagens: 108
Vicfirth5a está no bom caminho
Re: ENTREVISTA: Anthony King - Baterista norte-americano a trabalhar no Brasil

Alo Felipe.
Bela entrevista esta com o Anthony King, muita coisa boa por se aproveitar deste papo.
Eu nao conheco pessoalmente o Anthony, temos nos comunicado por e-mail e ele sempre aberto a ajudar e ensinar os outros, ja mandou-me algum material.

Mais uma vez, BELA ENTREVISTA.

Abraco

Citação:
Mensagem Original de Felipe Basilio Ver Mensagem
Entrevista com Anthony King

por Adalberto Brajatschek (Magoo) - 01/03/2006

Anthony King é um baterista Americano que se apaixonou pelo Brasil. Desde a sua primeira visita, ele tem se mostrado muito empolgado com nossa cultura. Anthony vem nos trazendo valiosas informações, com muita seriedade e competência. Está trabalhando também para divulgar a marca de várias empresas brasileiras. Seu principal recado é que acreditemos mais em nós mesmos e em nossa cultura. É com grande satisfação que contamos com sua colaboração e experiência.

SB: Quando você veio para o Brasil pela primeira vez e como rolou esta idéia?

AK: Eu cheguei em São Paulo pela primeira vez em 1998 depois do lançamento do CD Plugged de Mello Jr. No começo de 1997 fui contatado por um grande amigo que era diretor musical da turnê de uma banda fora de New Orleans, eles dispensaram o baterista logo depois que chegaram do Brasil. Eu terminei os dois últimos meses da turnê. O guitarrista da banda era um jovem músico brasileiro chamado Mello Jr. Cerca de uma semana antes de terminar a turnê Mello Jr. me disse que estaria gravando seu primeiro CD solo e gostaria que eu gravasse algumas faixas. Eu disse a ele para me enviar uma cópia com as idéias no formato ADAT que eu poderia gravar as partes de batera num estúdio da Califórnia. Ele me enviou 5 tracks, eu fui a um estúdio e gravei a parte de bateria e mandei de volta para ele. Dois meses depois ele me ligou me convidando para visitá-lo e tocar com ele no Brasil. Em fevereiro de 1998 eu parti para São Paulo, onde fiquei dois meses. Desde 1998 tenho visitado o Brasil todo anos.

SB: Quais foram suas primeiras impressões? Algo mudou depois que você conheceu melhor nosso povo e nossa cultura?

AK: Tenho que ser honesto com você; minha primeira impressão do Brasil não foi como eu achei que seria. Eu estava esperançoso em encontrar mais atividades na cultura brasileira, mas ao invés disso eu percebi uma grande influência Americana e Européia. Bem, grande parte disso é devido ao estilo das pessoas que tive contato na minha primeira visita. Mello Jr. era um guitarrista de Rock, que adora Steve Vai, Eddie Van Halen, Joe Satriani dentre outros. Então eu não vi muito da verdadeira cultura brasileira que eu estava procurando até que comecei a buscar por mim mesmo. A primeira pessoa que encontrei foi o grande amigo Marcus Aflala que fala inglês muito bem e me levou para ouvir Forró e Samba de Big Band. Eu estava maravilhado com as histórias que ele contava enquanto eu assistia as bandas. Depois, através de Mello Jr. eu conheci Philip Colodetti que me levou para conhecer o Carnaval; sua esposa Luciana Colodetti me levou para conhecer uma banda de Pagode e eu me apaixonei pelo Brasil. Mais tarde eu conheci Douglas Las Casas. Ele me ensinou vários ritmos brasileiros como Samba, Axé, Forró, Pagode e muitos outros. Douglas é mais que um amigo, é um irmão. Ele é um dos caras mais humildes que eu conheço e sua esposa, a Paula, que é uma super dançarina me levou para ver sua apresentação de Forró e Lambada. É realmente incrível!

SB: Muitas pessoas no Brasil acham que os músicos brasileiros são mais focados no “feeling” enquanto que os Americanos, Caribenhos e Europeus focam mais a parte técnica com um estudo super disciplinado. O que você tem a dizer sobre isso?

AK: Tudo depende do tipo de música que você está escutando e de quem está tocando. Muito da música Americana como o Gospel, Rock n Roll, Blues, Funk, Soul e Hip-hop vêem dos Afro-Americanos que na maioria dos casos não estudam porque não podem bancar um professor. Estes músicos tocam o que sentem e o que está em seus corações, muitas vezes baseados no que eles ouviram desde crianças, e adaptam isso ao momento presente. Foram os “músicos brancos” que criaram a música (em termos de teoria) e a colocaram no papel em forma de partituras porque não podiam compreender o feel, eles compactaram tudo isso e criaram algumas regras e as chamaram de Técnica. Era uma maneira de demonstrar ou explicar o que eles ouviam. Com o passar dos anos os “músicos negros” começaram a estudar, não para aprender a tocar, mas para serem aceitos pelos brancos que controlavam os clubes, estúdios e estações de rádio. Aqui vai um bom exemplo: Eu estudei numa escola por seis meses antes de ser chamado para fazer uma turnê, quando tinha cerca de 19 anos de idade. Eu me lembro do professor ensinando o Samba Jazz. O engraçado foi que quando eu encontrei o Douglas pela primeira vez ele me pediu para tocar o Samba e eu toquei o que eu achava que era Samba. Ele riu muito e eu pensei “Maldito Steve Gadd você mentiu pra mim!". O que eu quero dizer é que o que é mostrado para nós lá fora como Samba, na verdade não é o verdadeiro Samba e sim uma interpretação “equivocada” do que está no papel. Meu conselho aos bateristas brasileiros que querem aprender o Jazz, Funk, hip-hop e outros estilos Norte Americanos é que vocês usem primeiro seus ouvidos e tentem compreender e sentir o que vocês estão escutando.

SB: Há aqui também um pensamento que a vida dos músicos fora do Brasil é uma maravilha, e costuma-se reclamar muito da nossa situação. Como você vê o mercado musical mundial e qual sua opinião sobre o mercado brasileiro?

AK: Quando eu dou workshops no Brasil para os jovens eu digo a eles as verdades sobre como é a vida de um músico Americano. Para se obter sucesso não há diferença entre músicos Americanos e Brasileiros. Primeiro você tem que definir o que é sucesso para você e não para os outros. Por exemplo, eu tenho um amigo chamado Jeff "JL" Langan; ele não consegue tocar solos imensos como Dennis Chambers. Também não tem os anos e anos de estudo com um professor particular. Jeff é um percussionista autodidata que aprendeu como tocar bateria, e o que ele sabe é tocar grooves legais e manter muito bem o tempo. Ano passado Jeff trabalhou com duas bandas e, por um ano inteiro tocou 5 noites por semana e, toda sexta, sábado e domingo ele tocou com as duas bandas em diferentes clubes de cidades distintas. Ele tocava com uma banda das 17:00 - 20:00, pegava suas coisas e dirigia até o próximo clube onde tocava das 22:00 - 1:30. Fez isso durante um ano, três noites por semana. Num dia tocava Funk noutro dia tocava Reggae e assim por diante. Isso é o que eu chamo de sucesso, porque ele tocava 8 vezes por semana durante um ano inteiro. Muitos músicos acreditam que sucesso é fazer uma turnê mundial, aparecer na TV, na MTV, aparecer em vídeos e conseguir patrocínios. Isso é apenas uma pequena fatia do sucesso, e ainda tem a pior parte que é a que você tem o trabalho enquanto o artista que você acompanha está em alta, porque o tempo de sucesso dele é demarcado e quando acabar você terá que procurar emprego como todos procuram. Se a sua banda está gravando e tocando, de certa forma você é um sucesso. Se você estiver aberto a novos estilos musicais terá muito mais chances de trabalho e por muito mais tempo, mas se você só conhece um estilo diminui suas chances.

SB: Você tem uma grande experiência gravando e tocando com artistas famosos. Qual a grande diferença em tocar numa banda de garagem e tocar numa banda famosa?

AK: Depois que Rosie Gaines deixou o Prince e o The New Power Generation para começar sua carreira solo ela fez testes com centenas de músicos e eu recebi um telefonema de um amigo que era diretor musical dela me convidando para fazer o teste também, mas para ser o percussionista da banda da Rosie. Fui honesto e falei para ele que embora fosse uma grande oportunidade, eu não poderia fazer o teste porque não sou percussionista; se ela precisasse de um baterista estaria à disposição. Ele retornou uma hora mais tarde e pediu que eu gravasse uma fita demo e a enviasse para Rosie Gaines o mais rápido possível. Então eu aluguei um estúdio por uma hora e gravei alguns grooves em diferentes estilos que eu havia aprendido. Uma semana depois ela me ligou e me convidou para entrar na banda. Uma das primeiras lições que eu aprendi foi como tocar com uma banda séria, pois ela havia acabado de sair de um trabalho de 4 anos de shows e gravações com o Prince e seus padrões eram super altos. Rosie não tolerava erros e uma vez me disse que erros acontecem quando você não presta atenção ao que está fazendo! Eu aprendi como escutar todos os instrumentos em uma música e me lembrar do que todos os músicos estavam tocando, desta maneira eu sei o que tenho que fazer e faço correto já na primeira vez. A diferença entre tocar com uma banda internacional e uma banda comum local é que as bandas pequenas não têm um padrão muito alto quando estão trabalhando. Eles já esperam os erros e não tentam melhorar seu trabalho. Numa banda séria de maior porte eles vêem a música como um meio de vida, onde apenas os melhores sobrevivem. As bandas de garagem acreditam que alguém vai aparecer no show e “descobri-los”, eles também dão ouvidos somente às pessoas que dizem que eles são o máximo! Este é um falso senso de sucesso porque estas pessoas nunca entendem que se conhecerem suas fraquezas, poderão se superar e tornar-se melhores.

SB: Que habilidades um baterista deve ter para encarar um trabalho profissional?

AK: Ele ou ela deve ter uma atitude muito profissional, deixar todos os problemas pessoais fora da música, estar aberto a novas idéias, e ter um conhecimento de som, equipamentos e dinâmicas.

SB: Qual a melhor maneira de se manter motivado?

AK: Ouça diferentes estilos de música, trace objetivos para o futuro e mantenha o foco no que você tem que fazer.

SB: Hoje em dia temos uma gama muito grande de material didático como métodos, DVDs, CDs, play along, etc. Fica fácil para um estudante se perder no meio deste material todo e esquecer quais os aspectos fundamentais da música. Você poderia nos mostrar um bom caminho a seguir? Quais os aspectos mais importantes para se estudar?

AK: Tudo isso depende do que você quer fazer com a música. Algumas pessoas gostam de estudar e conhecer a música através dos livros. Isso é importante se você quiser ser um professor. Ouvir CDs ajuda você a melhorar sua linguagem. Os DVDs ajudam você ver o que seus bateristas favoritos fazem para criar o som que você admira. Hoje, com a Era dos computadores, você pode ter tudo o que deseja ouvir e ver; o aprendizado está na ponta dos seus dedos, tudo depende do que você quer fazer e se você compreende o que quer fazer.

SB: Esta não é uma pergunta; é um “espaço aberto” para você comentar o que quiser. Pode ser um conselho, um puxão de orelha, uma sugestão. Fique a vontade.

AK: Eu gostaria que os bateristas brasileiros soubessem que como músico você tem uma situação muito melhor no Brasil do que aqui nos EUA. Muitos dos meus amigos brasileiros não acreditam quando eu falo isso. Veja um exemplo: eu fiquei dois meses em New Orleans. A média do cachê de um músico no Bourbon Street tocando 8 horas por noite é de $100.00 e se a noite for legal, ele ganha mais $100.00 em gorjetas. 8 horas é o mesmo que um dia de trabalho num escritório, então $100.00 por 8 horas de trabalho não é muito dinheiro. Na Califórnia a média do cachê de um músico é de $100.00 por um total de 3 horas, mas se o show é longe da sua casa, você gasta $25.00 de gasolina, $10.00 para comer, e tem que sair 3 horas antes para montar o equipamento e checar o som, o que dá um total de 7 horas por menos grana do que o músico de New Orleans. Muitos Americanos não apoiam a música ao vivo e preferem DJ's, a vida para um baterista pode ser bem difícil a menos que você toque em duas bandas ou mais, de forma que você toque muitas vezes por semana, ai a grana é boa. Se eu fizer um show aqui na Califórnia com minha banda, teria sorte se 40 pessoas fossem nos assistir. Em São Paulo quando estive no Bourbon Street tivemos pelo menos 700 pessoas toda noite para nos ver, e as pessoas realmente curtem a noite. No Brasil há milhões de pessoas que gostam de se divertir, você só tem que manter a sua banda boa o suficiente para cativar o máximo de pessoas que puder. Brasil é um lugar maravilhoso para tocar e eu adoro voltar todo ano para dividir isso com vocês.

SB: Muito obrigado Anthony King por reservar um tempo para nós. Você é sempre bem vindo ao nosso site e ao nosso país. Precisamos de pessoas como você para nos ajudar a quebrar as barreiras culturais e os preconceitos que, inevitavelmente, se formam.

AK: Obrigado a vocês e se tiver algo que eu possa fazer para ajudar, minhas portas estarão sempre abertas, adorarei responder a qualquer pergunta.
__________________
Almeida Ngoca
www.myspace.com/almeidangoca
Vicfirth5a não está cá agora...   Citar esta Mensagem
Não lido Qua, 30 de Junho de 2010   #3
vxbatera
 
Membro desde: 20-Out-2008
Local: São Paulo
Mensagens: 10
vxbatera está no bom caminho
Re: ENTREVISTA: Anthony King - Baterista norte-americano a trabalhar no Brasil

Ressucitando o tópico... não sou voceiro.. rsrsrs



Eu sou Brasileiro, e posso falar que pra chegar num alto nivel igual o de Anthony tem que ralar muito pra poder falar assim, Parabéns! e pra mim adquiri experiencias e ja vi que musica é QI= Quem Indicou! rsrsrs é sério, se um Douglas las Casas ja (ja conversei com ele) se ele me indica coisa ruim não deve ser não é? e por assim vai...

to tentando entrar de cabeça na musica mais é um campo, uma arena que voce tem que vencer todos os dias!
__________________
Drummer Bateria é minha vida!
vxbatera não está cá agora...   Citar esta Mensagem
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