Citação:
Mensagem Original de Miguel Martinho
Eu comecei aos 15 anos como baixista. Como músico amador já fiz praticamente tudo o que havia para fazer. Já assinei contrato com editora, já gravei num dos melhores estúdios portugueses (Namuche), já dei concertos sem conta, já participei em festivais como convidado, já toquei com tanta gente que perdi a conta.
Aliás, foi por ter tocado com tanta gente e com experiências diferentes que comecei a ver certas coisas de maneira diferente.
Já toquei com muito bom músico e já toquei com pessoas que nem segurar o instrumento sabem.
Já toquei com gente humilde e com cagões de primeira mas que ficavam muito a dever ao seu real valor.
Se calhar por já ter passado isto é que hoje vejo que não tenho paciência para certas coisas na música.
É impensável para mim actualmente ir para uma banda de originais que não saiba o que quer, tal como não me vejo numa banda de covers com malta a experimentar se sabe ou não tocar.
Acredito que seja uma fase... pode ser que apareça aí uma banda onde realmente goste de estar.
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Também já me falta a paciência para muita coisa, hombre! Mas tive a "sorte" (não foi só sorte, obviamente) de conseguir hoje em dia tocar naquilo que gosto.
Quando vim para Barcelona, e deixei para trás as minhas baterias, também foi muito duro desse ponto de vista musical. Mas aqui em Barcelona não desisti e durante anos lá fui eu para os bares tocar uns temazitos em jams e a tocar com todo o nível de músicos, de todas as nacionalidades imagináveis. Após conseguir vender a minha bateria em Portugal

, lá comprei uma cá, que esteve encaixotada uns meses. Mas então surgiu um contacto (por conhecer malta nessas jams) para ir fazer umas audições para uma banda de covers. Não era o que eu queria, mas tinha de começar por algum sítio. Foram condições algo duras (ir tocar a 300 e 400 km de Barcelona, dormindo lá e tocando das 3 às 6 da manhã, apesar de ser relativamente bem pago), mas valeu a pena, para me misturar mais no meio dos músicos daqui. Pouco tempo depois, um amigo que tocava na banda onde eu queria tocar disse-me que ia viver para Madrid. Ofereci-me descaradamente para o substituir e nas audições fui preterido em favor dum baterista muito melhor do que eu tecnicamente. Foi uma desilusão enorme! Mas pouco tempo depois, e como esse baterista não tinha a mesma disponibilidade que eu para ensaios e composição, lá me chamaram dessa mesma banda, onde agora toco.
Não fazemos dinheiro (apenas o suficiente para pagar a sala de ensaio e as despesas quando vamos tocar), mas toco o que realmente gosto, e com músicos de bom nível e muito boa onda. É tudo a que aspiro neste mundo, pois sabes mais ou menos as minhas ambições musicais. E apesar de haver por vezes algumas fases mais duras, em que posso estar em desacordo com alguma selecção de reportório, ou com algum concerto menos conseguido, é aqui que quero estar. Aliás, a banda é um dos motivos que me prende a Barcelona e que aceito como limitação mesmo para opções profissionais; ou seja, poderia estar a candidatar-me a empregos mais bem pagos, mas opto por menor responsabilidade profissional para ter mais disponibilidade para a banda. E apesar de sofrer um pouco por não poder praticar tanto como gostaria, o saldo é muito positivo.
Claro que alguns dias, quando desmonto o material e sinto no corpo o esforço, penso se realmente faz sentido eu sacrificar tanto pela música. Mas como nem sei como seria a minha vida sem estas coisas de ensaios, concertos e afins – comecei demasiado cedo nestas coisas, e não saberia o que fazer com o tempo livre se não tivesse isto – opto por manter, mesmo com vários sacrifícios de ordem pessoal e profissional.
Acho muito normal teres essa "crise", ainda para mais porque aí em Lisboa falta muita infra-estrutura para haver mais situações musicais como referi (jams, por exemplo), mas a vontade acaba por superar isso, se realmente quiseres.
Grande abraço!