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Não lido Qua, 26 de Março de 2008   #1
Alexandre Costa
 
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Local: Lisboa
Mensagens: 32
Alexandre Costa será famoso em breve
HISTÓRIA DE EMBALAR: "Rufus e Arrufus" - Para os bateristas papás lerem aos filhotes.

Rufus e Arrufus

- Bum, bum,…bum, bum, bum,…bum, bum…bum, bum, bum…

- Ó Bombo, não te importas de parar um bocadinho? Estou a ficar farto de tanto barulho.
- Como ousas tu, um simples timbalão rabugento e insignificante, interromper o meu ensaio? – perguntou irritado o Bombo – parece-me que estás com inveja…
- Eu? Com estas formas tão elegantes, ter inveja de uma coisa redonda e gorda como tu? Ridículo. Ainda por cima tens um som insuportável. – disse-lhe o timbalão com uma gargalhada.
- Tu não consegues distinguir um som de qualidade nem que ele passe por cima de ti. Deves estar doido de tanto levares com a baqueta em cima. Não te esqueças que sou eu quem marca os compassos com este meu som forte e grave. Lamento meu caro, sou o mais importante.
- Não é bem assim – interrompeu a Tarola toda empertigada – aqui não há ninguém mais importante, somos todos iguais. Eu também marco o ritmo e tenho um som muito bonito.
- Som de tarola…grrr – disse o Bombo com desdém.
- Ó Bombo não gozes, a Tarola tem razão. – exclamaram os Pratos de Choque – Aqui somos todos importantes. Eu também trabalho muito neste grupo.
- Já cá faltavam os pratinhos de choque a defenderem a amiguinha Tarola. – resmungou o Bombo – Sempre tão encostadinhos a ela, sempre aos segredinhos.
- O que tu chamas segredinhos nós chamamos harmonia. E se estamos encostados, é porque assim trabalhamos melhor.
- Ora. Vocês têm um som tão fraquinho que quase não se ouve. E não quero mais conversa, vou continuar a ensaiar. Bum, bum,…bum, bum, bum…
- Eu estou contigo – gritou o Prato Maior.
- E eu também – tilintou o Prato Pequeno.
Bum, bum…bum, bum, bum…taim, taim…taim, taim, taim…tim, tim…tim, tim, tim.
Grande barulheira. O Prato Pequeno era irmão do Prato Grande. Eram grandes amigos do Bombo. Os três eram muito endiabrados, e estavam sempre a provocar todos os outros. O timbalão grande irritava-se com facilidade e era primo dos dois timbalões mais pequenos que estavam naquele momento muito assustados com aquela discussão. A Tarola era muito amiga dos Pratos de Choque.
Todos juntos, constituiam uma bela bateria que dava um som maravilhoso quando trabalhavam em conjunto. Mas naquele dia estavam particularmente rabugentos, a discussão estava mais feia que o costume.
- Podem parar com esse chinfrim? – gritou a Tarola com as suas batidas secas.
- Achas que isto é chinfrim? – perguntou o Bombo encolerizado – Amanhã, quando formos tocar, vais ver o que é chinfrim. Vou fazer o pior som que conseguir e depois quero ver como é que se vão safar.
- O barulho desse teu pedal ferrugento já é suficientemente mau, escusas de te esforçar – gracejou a Tarola. Mas já agora também vou fazer o mesmo, vamos ver com qual de nós o baterista se vai preocupar.
- Ok, vamos ver.
No dia seguinte a bateria foi montada num grande palco juntamente com outros instrumentos. Estava prestes a começar o concerto.
Batida de baquetas…1, 2, 3, 4…
O grupo começou a tocar. Tudo estava a correr bem e som era fantástico.
De repente algo aconteceu. O Bombo piscou o olho aos irmãos Pratos e o som começou a ficar esquisito.
Bruumm, bruumm, pém, pém, póin, póin…
Os músicos olharam uns para os outros admirados, não entendiam o que estava a acontecer mas continuavam a tocar.
A Tarola quando se apercebeu o que se estava a passar fez sinal aos Pratos de Choque e pioraram a situação.
Tcha, tcha, tcha, xim, xim, xim…
O som da bateria estava um caos. Parecia um monte de latas a baterem umas nas outras. O Timbalão e os seus primos ainda tentaram salvar a situação, mantendo um som vivo e cristalino, mas já nada conseguiam fazer contra tamanha barulheira.
O concerto acabou por ser cancelado, era impossível continuar assim.
Os outros instrumentos olhavam a bateria com indignação enquanto eram desmontados. Tinha sido uma grande humilhação.
Passados uns dias o baterista entrou na sala de ensaios com uma grande caixa.
- O que será aquilo? – perguntou a Tarola.
- Cala-te, vamos já ver – resmungou o Bombo.
A caixa foi aberta e ficaram estupefactos.
- Uma…bateria – disse o Timbalão hesitante.
- Uma bateria electrónica – sussurou a Tarola – estamos perdidos, vamos ser substituídos.
O baterista resolveu experimentar o novo instrumento. Funcionava muito bem e afinadinho. Mas o som…o som não era exactamente o som duma bateria real. Tinha saudades da sua velha bateria.
A nova bateria olhava para a outra com ar de gozo.
- O que é que esta coisa quer? – perguntou o Bombo indignado – mando-lhe já com um som grave que se desfaz toda.
- A culpa foi vossa – ralhou o Timbalão – se não tivessem feito asneira, não estávamos agora preocupados.
- Tenho que te dar razão – concordou o Bombo envergonhado.
- A culpa também foi minha – admitiu a Tarola – estou muito arrependida.
- E agora, o que é que vamos fazer? – perguntou aflito um dos pratos.
- Eu não me quero separar de vocês – disse um dos timbalões mais pequenos.
- Eu também não me quero separar, vocês são os meus únicos amigos – disse melancólico o Bombo.
- Posso interromper? - perguntou uma das baquetas.
- Mas tu falas? – perguntou admirada a Tarola.
- Sim, nós falamos. Nunca falámos convosco porque sempre nos ignoraram. Neste grupo todos são importantes. Cada um tem a sua função. Sozinhos pouca importância temos, mas com a ajuda uns dos outros conseguimos feitos incríveis. Juntem todo o vosso valor e de certeza irão ter muito sucesso.
- E não se julguem melhor que os outros – disse a outra baqueta – ninguém é dono da verdade e da perfeição. Na próxima oportunidade que tiverem de tocar em conjunto, dêem o melhor de cada um de vós. De certeza que o resultado vai ser espectacular e ninguém irá pensar em trocar--vos.
Alheio a esta conversa, o baterista olhava melancólico para a sua velha bateria. Estava com pena de se desfazer dela. Se pelo menos tivesse o som de antigamente…
Resolveu tocá-la mais uma vez em jeito de despedida.
Sentou-se, pegou nas baquetas, respirou fundo e carregou no pedal do Bombo.
Bum, bum…bum, bum, bum.
Bateu na tarola quatro vezes e depois no prato.
Os pratos de choque abriram a boca de satisfação e entraram no ritmo. Os timbalões sorriam acariciados pelas baquetas.
Havia ritmo de novo, alegria de movimentos e cadências de emoção.
A bateria tinha um novo som, espectacular, como nunca tinha tido.
O baterista entusiasmado tocou, tocou e tocou.
Finalmente levantou-se visivelmente satisfeito. Já não tinha dúvidas. Iria continuar com a sua velha bateria.
O Bombo e os seus amigos perceberam que foi graça ao esforço de todos, que o tinham conseguido. Ainda bem. Aprenderam a lição.

Fim


Aqui segue a pagina do autor:
http://umahistoria.no.sapo.pt/historia22.htm
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