Este texto diz muito do que (todos nós) fazemos da nossa sociedade (uns mais outros menos, mas estamos todos no mesmo 'barco' e, na grande maioria das vezes, sem o sabermos, estamos a contribuir para este estado de coisas...)
Ora leiam:
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Rosalina no país das aparências
Há poucos semanas escrevia-se que uma ex-corrente de um reality show teve acesso a uma cirurgia plástica para aumentar alguns dotes. Uma intervenção que até podemos classificar como necessária à atividade profissional, tendo conta a sua atividade: Posar com roupa íntima.
Rosalina, uma jovem de 23 anos de Viana do Castelo não teve a mesma sorte. Não foi a nenhum reality show. A vida, no entanto, encarregou-se de lhe levar a dura realidade. Um cancro raro no cérebro desferiu-lhe um golpe fatal no sorriso. O tempo que tem de vida, de forma crua e simples, servirá para que os médicos tentem restituir-lhe alguma dignidade humana. Há seis meses era uma jovem cantora, promissora, de sorriso aberto e feição de princesa. Hoje não fala, tem mais dias maus do que bons e praticamente não se mexe.
É aqui que entra a
comparação com a
cirurgia plástica paga por todos nós à modelo de roupa íntima.
Rosalina fez os seus descontos, trabalhava, e
quando precisava de uma ajuda, mesmo que fosse “apenas” para uma última tentativa para recuperar parte do sorriso nos seus últimos meses de vida,
o Estado português não esteve lá. Em novembro, os hospitais públicos entenderam que nada mais havia a fazer. Friamente, restavam-lhe os últimos dias.
Felizmente, amigas e família, não pararam e garantiram um tratamento alternativo, que sendo um paliativo, poderá permitir a dignidade necessária. O único senão é que vai custar 72 mil euros. Sem um cêntimo de dinheiros públicos, porque afinal o dinheiro de todos nós tem de ser bem gasto, obviamente.
Provavelmente, se Rosalina precisasse de uma cirurgia plástica o dinheiro dos contribuintes estaria disponível. Já para lutar pela vida é mais difícil e por isso fica para mais tarde. Até porque “Lina” não precisava deste tratamento para trabalhar, apenas para tentar sobreviver.
Rosalina vive, por isso, no país das aparências.
Paulo Julião
Janeiro 2013
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