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Esplanada dos Batucadores (Off Topic) Aqui, toma-se um copo e troca-se dois dedos de conversa... Conversa geral directa ou indirectamente ligada à bateria e percussão. (Nota: O bom-senso será a regra de ouro, e os assuntos ou temas ofensivos serão removidos e os membros infractores serão punidos.) |
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#1 |
![]() Membro desde: 16-Jan-2007
Local: Leiria
Mensagens: 1.054
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Veludo Nocturno. Capítulo II
As Segundas-Feiras são chatas em todo o país, penso eu... pelo menos já calcorreei várias cidades e vivi em três ou quatro e sempre tive a mesma sensação... ou então é de mim, que sou um animal nocturno e que para mim a melhor parte do dia, sempre foi a noite, desde que me conheço como gente.
Hoje já fui a três bares depois do jantar e... pouca gente, música de encher e um ambiente soturno e triste. Eu sei que não é fim de semana... Acabei a circular com o meu carro, à velocidade de patrulha, pelas ruas desta cidade maltratada e gasta, pese embora os esforços da autarquia em renovar espaços. Mas falta renovar a gente, que é o mais importante e sempre faltou neste país, à beira-mar plantado. Renovar no sentido de dar ânimo, impulso, consideração, amor-próprio... dar ás pessoas o reconhecimento por aquilo que fazem todos os dias, já que mais não seja, pela sua presença num qualquer lugar comum, entre boas noites e sorrisos... Noto uma presença de espírito cinzenta, nas pessoas... o dia a dia, a falta de projectos e de almejar um futuro promissor, falta de esforço para sorrir, status quo dejá vú, condição semelhante a todo o semelhante. O que é que se está a passar com a gente? Será que é só falta de dinheiro? Não acredito. Acredito que o problema, se é que existe algum, que não seja só na minha cabeça, é muito mais complexo do que isso. Ainda há pouco tempo fui a um bar onde só pára gente com posses, onde fui convidado a beber uma caipirinha, ao preço do petróleo. Não fui eu que a paguei. Mas notei a superficialidade das pessoas, que só falavam de carros e qual deles tinha maior cilindrada, ou das vivendas com aquecimento central e piscina... das roupas compradas numa loja de marca qualquer onde nos chupam até ao tutano. Preferia sê-lo num bordel. A música insípida ouvida com mais algum entusiasmo, por alguns jovens ali presentes que davam uns saltitos... As pessoas pareceram-me feias, sem sal, superficiais e em poses do socialmente correcto, tendo em conta o estrato social. Saí dali dizendo um obrigado honesto pela caipirinha e ficaram a olhar para mim, com um ar de interrogatório. Até outro dia... não tão cedo. Prefiro tascas e gente "ordinária". Mas isso foi há uns tempos. Tempos, tempo, espaço, enquadramento, quadratura, como disse o Hugo Danin, no encontro da Figueira, quase tudo na nossa vida é feita a quatro tempos, ou para os mais acelerados, a dois... Porque é que não contrariamos isso um pouco, de vez em quando? Porque é que não trabalhamos mais com a nossa parte esquerda, a parte fraca que pelos vistos tem mais força que a forte, mas que não sabemos, porque nunca nos atrevemos...? Primar um pouco pelos ímpares e os compassos compostos... também na vida isso se pode aplicar, não só nos nossos queridos prolongamentos dos nossos corpos de bateristas... Desta vez embrenho-me na noite montado confortavelmente no meu carro. Nem tenho o rádio ligado, não estou a ouvir música, essa amina da vida, que me alimenta. Esvazio-me de emoções, propositadamente. Eu consigo fazer isso. O veludo da noite, aqui, onde estou agora a passar, não é tão intenso, mas isso não quer dizer que não o sinta sempre. É bom. É suave "ao toque", o toque que se sente com a vista e os sentidos. De onde é que saíu aquela rapariga? Passo por ela devagar, ela vira-se desconfiada, olho para a sua face que tem uma angústia controlada... Meu Deus, como é bonita! Como é possível uma cara tão bonita, ficar tão feia? Não no sentido fisionómico, mas sim no sentido animico... Deve ter uma vida dura. O meu olhar mais atento aos pormenores descobre uma ponta de um saco de plástico a sair da pequena mochila que trás ao ombro. Marmita. Marmita, trabalho. Trabalho àquela hora, turnos. Turnos, fábricas, grosso modo nesta cidade. Fábricas, vida difícil, penosidade, existêncialismo de uma quase sobrevivência amargurada pela vida do ram ram igual a si próprio, como que num círculo vícioso. A Perfec Circle... Isto leva-me a ligar o auto-rádio e pisar o pedal do acelerador. Suavemente o motor ronca e impulsiona-me para a frente até ao próximo semáforo, onde passo o amarelo a queimar. A música começa a brotar sílabas e andamentos cadênciados de uns velhos e queridos amigos do meu imaginário: King Crimson. Vou andando devagar e olho as montras das lojas, praticamente vazias do centro histórico. Aquelas paredes, aqueles parapeitos, aqueles estores tortos e negros das intempéries, do passar dos anos e da impossibilidade de lhes chegar para os limpar, devem ter tanto para contar... Mas nem tudo são espectros e coisas negras esfumadas. Chego ao espaço acolhedor das minhas bombas de gasolina preferidas onde páro para meter dois dedos de conversa com a Graça e folhear algumas revistas. Entre a Loud e o Blitz, lá vou "kriegando" para refinar o espírito através de uma leitura ligeira e sorrisos para ela. Dás-me um chocolate quente, por favor? Estás tão bonita hoje!
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"...água fura em dura mole, tanto dá até que pedra..." |
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#2 |
![]() Membro desde: 3-Abr-2006
Local: Bobadela/Lisboa
Mensagens: 7.215
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Definitivamente temos contador de contos!
![]() Gostei da leitura. Gosto particularmente da forma directa, simples e sentida com que escreves. Parabéns!
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Baquetas BateristasPT-Missom |
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#3 |
![]() Membro desde: 5-Mar-2007
Local: guimarães
Mensagens: 207
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muito bom.. viva as tercinas...lol.
realmente as segundas sao muito más. da tua escrita so a posso caracterisar como sendo realista. do tipo cesario verde. keep going.
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#4 |
![]() Membro desde: 16-Jan-2007
Local: Leiria
Mensagens: 1.054
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Thanks Hammer! Thanks João Luis Ribeiro Marques!
também adoro as tercinas, 1,2,3; 1,2,3; 1,2,3... agora mete-as num compasso quaternário! É lindo! ![]()
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"...água fura em dura mole, tanto dá até que pedra..." |
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#5 |
![]() Membro desde: 19-Jul-2006
Local: R/C esq...
Mensagens: 103
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muitos parabens..
o teu relato fez-me lembrar caminhadas que fazia,pela minha vila a um domingo a noite,com um cigarro na mao,a ouvir musica,tendo mil e uma ideias que so a noite consegue descortinar.. parabens ![]()
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Bora la fazer a Revolução.. ![]() |
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#6 |
![]() Membro desde: 5-Fev-2007
Local: Estádio do Dragão
Mensagens: 1.093
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ó Jorge...sem palavras...fosca-se...já li muito livrinho que não valia nem transmitia 1/20 do que as tuas palavras transmitem...mais uma vez
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http://sadrums.mybrute.com |
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#7 |
![]() Membro desde: 16-Jan-2007
Local: Leiria
Mensagens: 1.054
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Thanks Bugradi! Thanks Sadrums! Gosto de escrever sobre a vida e o que ela me faz sentir. Abraços
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"...água fura em dura mole, tanto dá até que pedra..." |
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