Opiniões sobre o Jazz

[Miguel Martinho]

Mensagem Original de fragosom

Claro

não conhecia estes casos específicos, mas existem muitos mais, em que as pessoas tocam e trocam de estilo adaptando-se perfeitamente. Quando se tem a técnica apurada que é exigida no jazz, o resto faz-se quase por pura diversão, outras vezes para ganhar mais uns cobres e ter a experiência de tocar para milhares, que o jazz por norma mais intimista, não oferece. O contrário duvido que possa acontecer sem muito estudo suplementar.

Mas tu achas que esses bateristas de jazz chegam ao metal e tocam à primeira?! Chegam lá, REC e tá feito?!



Já agora, o Colaiuta tem uma longa lista de participações com bandas de rock, portanto, o facto de tocar com Megadeth não foi uma escapadela exclusiva do mundo do jazz para tocar metal assim do nada.
Por falar em Colaiuta, ainda no outro dia o vi no canal iConcerts a tocar com o Jeff Beck.

[fragosom]

Sim é verdade mas também acredito que seja um caminho muito mais fácil de percorrer do que o contrário.
É muito mais fácil caminhar quando se tem bases sólidas, e também é verdade que estamos neste caso a falar de casos excelentes, mas quem tem a técnica que eles têm ou similar é muito mais fácil a adaptação. Além de que é gente que não pode nem quer perder muito tempo nos estúdios, habituada a tocar com muita gente de topo e em que o entendimento é muito mais fácil.
Mesmo quando não têm a pauta na frente, a maior parte das vezes adivinham o que vem a seguir e muitas vezes superam as expectativas e acrescentam o seu cunho pessoal.
E também só são chamados a tocar noutros estilos porque conseguem desempenho apropriado. Ninguém quer gravar heavy com um baterista que cheira a jazz, se o chamam é porque sabem que ele toca apropriadamente e não têm que ir outra vez para a escola.

[Miguel Martinho]

Mas isso acontece com qualquer músico de sessão, seja ou não do jazz.

[fragosom]

sim mas não sei se a facilidade será a mesma

[Miguel Martinho]

não me parece que o terry bozzio ou o mike mangini apresentem grandes dificuldades a fazer trabalhos de freelancer.



Acho que tudo se resume a o baterista ser bom ou não, a área musical de onde vem parece-me irrelevante.

[fragosom]

Sim é verdade mas ser bom baterista inclui estar à vontade no jazz.
Lá está, andamos aqui às voltas e para se ser bom baterista, quanto a mim é necessário possuir técnica suficiente para nos podermos movimentar em qualquer área, e o jazz será porventura a que exige mais de qualquer instrumentista. Se estiveres bem ai será mais fácil entrares pelo resto, continuo a pensar que depois de subires o Evereste a Estrela é quase um passeio de fim de semana.

[Miguel Martinho]

Continuo a não perceber se incluis os músicos de música clássica nessa tua tese de que no jazz é onde estão os melhores.

Certamente que nem a todos os bateristas interessa minimamente tocar jazz e não é por isso que são menos bons.

[fragosom]

Miguel

A música clássica é um mundo muito grande como sabes, e claro que existem ai muitos e grandes músicos. A questão é que neste tipo de música não existe quase margem para espontaneidade o que aliás é muitas vezes motivo de conflito entre os grandes solistas e os maestros. É uma questão de interpretação e com maestros menos versáteis; quem manda é o chefe
De qualquer modo, quer para uns quer para outros existe uma pauta e um compositor a respeitar, e também porque se andarem 120 gajos a fugir à pauta, nunca mais ninguém se entende.

É claro que muitos desses músicos procuram experiências diferentes noutras áreas e a sinfónica influenciou muito e bem, outras áreas incluindo o rock.
Mas, o que se passa com estes músicos muitas vezes, é que se lhe tirares a pauta da frente, eles ficam a anhar porque a sua educação musical foi feita de uma relação instrumento/pauta difícil de separar.
É claro que os mais versáteis e espontâneos, acabam sempre por dar o salto para outras experiências e o jazz é muitas vezes o escolhido precisamente porque é um campo onde tu podes tocar a pauta e ao mesmo tempo "fugir" dela numa liberdade difícil de encontrar noutra área.
Tens espaço para criar e exprimir os teus sentimentos e claro que quanto mais técnica tiveres melhor o farás.

E claro que há muitos bateristas que conseguem conviver bem no jazz, mas que por razões diversas não querem nada com ele. Não é por isso que não são bons bateristas.
Agora também há muitos que têm esta atitude porque é um caminho árduo a percorrer e optam por outros caminhos mais fáceis.
Também não os censuro, cada um sabe de si.

[Miguel Martinho]

Mensagem Original de fragosom

É claro que os mais versáteis e espontâneos, acabam sempre por dar o salto para outras experiências e o jazz é muitas vezes o escolhido precisamente porque é um campo onde tu podes tocar a pauta e ao mesmo tempo "fugir" dela numa liberdade difícil de encontrar noutra área.
Tens espaço para criar e exprimir os teus sentimentos e claro que quanto mais técnica tiveres melhor o farás.

Não me parece que o jazz tenha tanta liberdade como o rock (e o metal uma vez que este é descendente directo do rock).
Se para tocar rock ou metal não se pedem cursos, só isso dá uma liberdade para o músico fazer o que quiser. Daí haver metal misturado com jazz, bossa, musica classica, musica de origens orientais, etc., etc. Guitarras com distorção pesada e limpas, teclados orquestrais e pianos, baterias electronicas misturadas com acusticas, instrumentos clássicos e tradicionais. No rock/metal há de tudo. POrtanto, mais liberdade que isto é impossível.

Eu tenho uma banda de metal e o baixista veio do conservatório e o instrumento base era o violoncelo. Mas claro, ele toca bem teclas, bem guitarra, bem baixo... cantar é que não, mas pronto, não se pode ter tudo
Depois, o metal está mais ligado à música clássica que o jazz devido ao som, devido à exploração dos graves e mesmo a nível de alguns tipos de acordes que são usados no metal que vêm directamente da música clássica (procura por Tritone Chord - chamado o acorde do diabo).
Há inclusive o Metal Sinfónico que tem bastantes características da música clássica.


Isto tudo para dizer que é falso que o jazz tem mais liberdade que outro estilo. É impossível um estilo que assenta as suas bases na formação (jazz) ter mais liberdade que um estilo que assenta as suas bases na exploração e na mistura de tudo o que se ouve (rock/metal).

[fragosom]

Miguel
Desculpa mas discordo (também, se concordasse-mos todos isto seria muito mau)

A música é por si só uma arte que tem o poder de conseguir colocar todos a falar com todos, é algo que nos transporta para uma linguagem universal, dinâmica em que realmente todos nos podemos entender.
Felizmente, vivemos num mundo em que os cruzamentos e casamentos entre os mais variados tipos de musica são cada vez mais frequentes e desejados.

Agora, o rock apareceu depois do jazz e quanto a mim, tecnicamente evolui muito menos, o seu ritmo base continua a ser o mesmo, e de uma maneira geral, vive muito das canções mais ou menos simples, apesar de todas as derivações e evoluções feitas ao longo destes 50 anos. Aquilo que mudou essencialmente, foi a procura de sonoridades, com efeitos e amplificações cada vez mais robustas.
É claro que os músicos também evoluíram e cresceram muito na sua técnica, isso não está em causa. Mas a essência continua lá mais ou menos hard.
É claro que temos a tal mistura com sonoridades e arquitecturas muito mais sinfónicas a partir dos anos 70, Genesis, Yes e por ai fora, também com elementos folclóricos que os músicos foram introduzindo a partir das suas raízes.
E depois as experiências da fusion e é ai que discordo contigo porque foram os músicos do jazz que iniciaram esse movimento de misturar técnicas jazisticas com sonoridades trazidas do rock como as guitarras em distorção por ex. É claro que muitos músicos do rock vieram por arrasto, e trouxeram o seu som, mas fizeram-no numa arquitectura mais complexa quer rítmica quer tonal. E essas dinâmicas são características do jazz, não do rock.
Mas tudo isto nem é muito importante, quem é que influenciou quem, o importante é a abertura que os músicos possam ter à musica em si e não se fecharem seja em que estilo for.

[Miguel Martinho]

Mas o Jimmi Hendrix veio do jazz?!
O Hendrix foi talvez pioneiro na arte de misturar tudo com uma guitarra eléctrica.


Depois, o rock descende do blues e não do jazz. Daí o conceito de construção das temas ter uma base simples em que tudo o resto cresce à sua volta.
A magia e a simplicidade de Pink Floyd continua a ser uma obra de arte e com temas feitos com meia dúzia de notas. Portanto, o facto de ter muitas ou poucas notas, muitas alterações rítmicas é um bocado irrelevante.
Falas e muito bem no rock progressivo em que de simplicidade normalmente tem pouco.
Basta ouvir Yes ou Rush para se perceber que não estamos a falar um 4/4 tocado a direito.
Para mim, o rock expandiu-se muito mais que o jazz porque abriu as portas a tudo ao contrário do jazz.


Concordo contigo quando dizes
"o importante é a abertura que os músicos possam ter à musica em si e não se fecharem seja em que estilo for."
Mas tu ao quereres colocar o jazz no cadeirão e o resto na plateia parece-me que não estás a seguir bem este pensamento.



Edit:
Nós andamos é aqui às voltas e não saímos do mesmo!!

[Lu Batera]

Para mim, o rock expandiu-se muito mais que o jazz porque abriu as portas a tudo ao contrário do jazz.

Discordo completamente desta tua frase. Então ainda há poucos posts estavas a falar da Joss Stone (e acho que também se podia falar do Jamie Cullum, neste exemplo), que é excelente exemplo de fusão do jazz com pop e soul!
Mas o mais relevante é que o jazz é uma música aberta a outras sonoridades desde sempre: desde que começou por ser uma adaptação das músicas dos escravos conjugada com o mardi gras e outras tradições dos negros da zona de New Orleans; passando pela integração dos ritmos afrocubanos e brasileiros (Stan Getz); depois, pela incorporação das linguagens do funk (Miles Davis); depois ainda com o rock (Mahavishnu Orchestra); também com imensas músicas étnicas (Shakti) e mesmo com o hiphop (Miles Davis). Repare-se que só utilizei um nome como exemplo de cada uma das fusões que referi, mas há muitos mais exemplos em cada uma delas, e ainda muitas outras fusões que nem referi, por ignorância e por falta de lembrança. Portanto, não, o jazz não é um estilo de música fechado, nem nunca foi.

[Miguel Martinho]

Mas como fiquei a saber que Joss Stone não é jazz, portanto, não conta!

Eu percebo o que queres dizer e aceito isso na boa, porque sei bem o espectro largo que o jazz tem em termos de sonoridades. Principalmente porque a evolução dos diversos estilos permite aos outros fundirem novas ideias.
Eu acho que todos os géneros acabam por cruzar-se em muitos pontos e momentos, daí achar que não há estilos superiores.

[Lu Batera]

Claro que não há estilos superiores!
Excepto o FUNK, claro, que é o melhor de todos.

[Miguel Martinho]

Então vai ser o próximo estilo a ser debatido?!

[Lu Batera]

Acho que não vale a pena, e explico o porquê com uma foto:

[fragosom]

Mensagem Original de Lu Batera

Portanto, não, o jazz não é um estilo de música fechado, nem nunca foi.

Exactamente Lu, se o fosse, nunca teria chegado onde chegou. E isso é cada vez mais notório nos exemplos que deste e em todos os outros que não deste e que seria uma desfilar de experiências sem fim.
Acho é que preciso perceber porquê, e a explicação que encontro é; alem dessa abertura que referes, a capacidade técnica que lhe permite adaptar-se bem aos mais variados estilos, introduzir e receber novos elementos, dos quais têm resultado as mais surpreendentes misturas e sonoridades.

[Jorge Cardoso]

Malta, até o próprio Paul DiAnno ex-vocalista dos Iron Maiden, foi para o Jazz, depois de deixar os Maiden.
Jazz é muito bom! E não quer dizer que eles sejam únicamente músicos ou toquem apenas esse tipo de música.
Outro exemplo: Charlie Watts!

[Miguel Martinho]

Mensagem Original de Jorge Cardoso

Malta, até o próprio Paul DiAnno ex-vocalista dos Iron Maiden, foi para o Jazz, depois de deixar os Maiden.
Jazz é muito bom! E não quer dizer que eles sejam únicamente músicos ou toquem apenas esse tipo de música.
Outro exemplo: Charlie Watts!

O guitarrista Alex Skolnick (Testament - banda de Thrash Metal) gravou um disco de jazz e andou durante uns anitos a tocar em clubes de jazz. Recentemente voltou a Testament.

[Jorge Cardoso]

Mensagem Original de Miguel Martinho

O guitarrista Alex Skolnick (Testament - banda de Thrash Metal) gravou um disco de jazz e andou durante uns anitos a tocar em clubes de jazz. Recentemente voltou a Testament.

Os próprios Opeth têm uma veia muito enraizada no Jazz e isso é notório nos temas deles!
Se isto não é Jazz, não sei o que será, obviamente tirando ser Metal, embora numa faceta mais soft:

[fragosom]

Desculpa mas não vejo onde está o jazz nisto. Mesmo que estes músicos possam ter essa escola aqui não se nota.
Sem querer catalogar de isto ou aquilo, neste caso parece-me mais perto do sinfónico, progressivo, etc por ai. Estrutura certinha, strings de fundo e guitarras com sonoridades mais ou menos limpas.

[Isidro Paixao]

este tema tem sido bastante debatido , e tem gerado curiosidade da minha parte em relaçao ao jazz , fragosom tu que pareces ser um gajo em cima do acontecimento em relacao ao jazz , posta ai uns videos de bandas portuguesas que conhecas , ou diz me ai uns nomes para eu ir pesquisar porque na realidade desconheço , em que patamar está o jazz a nivel nacional

[fragosom]

Olá Isidro

Apesar de me interessar pelo Jazz há muitos anos não é fácil estar-se como dizes "em cima do acontecimento" especialmente em Portugal, as iniciativas não são muitas e a maioria passa-se sempre nos mesmos sitios. Lisboa e Porto pois claro. Os músicos de jazz como de outros estilos, em Portugal tem imensas dificuldades em se mostrar e trabalhar.
De qualquer modo, apesar de tudo existem muitos e alguns muito bons e reconhecidos internacionalmente.
Infelizmente também não há muitos videos, pelo menos de qualidade, mas ai vão uns sites, o primeiro tem uma longa lista de músicos portugueses e biografias. Já dá para pesquisares.

http://www.jazzportugal.ua.pt/web/musicos.asp?lg=
http://www.jacc.pt/



Videos:

[andreareias]

Mensagem Original de Isidro Paixao

este tema tem sido bastante debatido , e tem gerado curiosidade da minha parte em relaçao ao jazz , fragosom tu que pareces ser um gajo em cima do acontecimento em relacao ao jazz , posta ai uns videos de bandas portuguesas que conhecas , ou diz me ai uns nomes para eu ir pesquisar porque na realidade desconheço , em que patamar está o jazz a nivel nacional

andre fernandes, nelson cascais, oscar graça, jeffery davis, bernardo moreira, joao moreira, nuno ferreira..etc etc

[Jorge Cardoso]

Mensagem Original de fragosom

Desculpa mas não vejo onde está o jazz nisto. Mesmo que estes músicos possam ter essa escola aqui não se nota.
Sem querer catalogar de isto ou aquilo, neste caso parece-me mais perto do sinfónico, progressivo, etc por ai. Estrutura certinha, strings de fundo e guitarras com sonoridades mais ou menos limpas.

Respeito os teus conhecimentos de Jazz, mas aquilo (Opeth-Windowpane) tem um groove e um cheiro a Jazz, pelo menos para mim. Certo que tem lá as suas características progressivas como é apanágio dos Opeth, mas ainda assim, penso que há neste tema muita subtileza que é comum também ao Jazz... abrAÇO!