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Esplanada dos Batucadores (Off Topic) Aqui, toma-se um copo e troca-se dois dedos de conversa... Conversa geral directa ou indirectamente ligada à bateria e percussão. (Nota: O bom-senso será a regra de ouro, e os assuntos ou temas ofensivos serão removidos e os membros infractores serão punidos.) |
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Sáb, 29 de Outubro de 2011 | #1 |
Membro desde: 16-Jan-2007
Local: Leiria
Mensagens: 1.054
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Torpor
Olho o espelho grande e de estilo clássico na parede, por detrás do balcão do bar acolhedor. Já vou no terceiro martini a tentar explorar a linha que toca a lucidez com o torpor... Mas afinal três martinis até nem é muito, não fosse a barriga vazia porque o corpo está cheio de sono mal dormido!
Sentir omnipotência a querer dominar o equilibrio entre sobriedade e o estado ébrio... metemos a mão no álcool e fazemos-lhe confidências... sorrimos para ele, dentro do copo ainda que de boca fechada e metidos com nós próprios, apesar do barulho quase ensurdecedor da música a metro que passa na maior parte dos bares... (é caso para dizer, música para a piça que os ******* estão a gravar)... mas não nos desviemos da estrada que trilhamos, nós próprios (apenas eu, afinal e o resto do mundo) o álcool de cor entre o púrpura e o castanho do martini, quente e que adoça o olhar... Até que ponto saberemos saber quando parar? Ou por outra, até que ponto sabemos onde se situa a linha difusa entre lucidez e loucura, ainda que controlada, não patológica? Não o sabemos ainda que o juremos a pés juntos! E afinal aí é que está a aventura cujos contornos até podemos dominar consoante o n.º de movimentos de elevação à boca, que fazemos com a nossa mão forte (coisa que num baterista se divide entre as duas), mas cujas consequências só saberemos quando levarmos com elas de chapão na cara! Pode ser ainda sentado no banco alto do balcão do bar, pode ser estatelado no chão do dito cujo entre os olhares de zombaria dos presentes, amigos ou desconhecidos, ou já na rua a levar com o fresco saudoso do Verão findo a sucumbir ao General Inverno, poderoso e omnipresente, na cara como um soco amigável de alguém que nos quer bem! Acorda! Não estás em condições de andar quanto mais conduzir... Sento-me sorridente ao volante, depois de calcorrear os becos desgastados, vazios e tristes do centro histórico da cidade de ruas escuras onde coirões se preocupam em saber o que andas a fazer... O carro arranca suavemente como que empurrado pela brisa que à medida que a noite cai e se adensa, se torna mais agreste a colocar-me os pés na terra e na dura realidade... Chego a casa e aspiro o silêncio que evito tornar dramático. Sento-me no sofá tornado sifão e que me prende entre os seus braços, como o saneamento básico faz nas ruas das cidades, faz com a minha mente, ainda a querer desafiar ambos os lados da linha imaginária entre o sóbrio e o ébrio, que piso descoordenadamente mais ainda assim, confiante que vou seguro e que sei por onde vou! A segurança teimosa, quase obstinada do álcool que adormece e entorpece para a vida e nos embala docemente para ter forças apenas necessárias para sair do sofá e tombar derrotado na cama... Amanhã será um outro dia, igual a tantos outros e lá estarei onde deverei cumprir o meu dever diário, custe o que custar, pois a consciência já terá vingado sobre o álcool e a vida é dura para quem é mole! Até mais um amanhã meus amigos...
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"...água fura em dura mole, tanto dá até que pedra..." |
Sáb, 29 de Outubro de 2011 | #2 |
Membro desde: 29-Out-2009
Local: Porto
Mensagens: 2.459
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Re: Torpor
Muito profundo e excelentemente bem escrito!
Poeta autêntico! Tanto talento na bateria como para a escrita? (Just kidding...) Abraço e surpreende mais vezes!
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[ex-Punksongsdrummer] |
Seg, 31 de Outubro de 2011 | #3 |
Membro desde: 25-Nov-2009
Local: Areosa
Mensagens: 249
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Re: Torpor
Boas amigo Jorge,
Isso é que é inspiração...!!!! Espetáculo,grande momento....venham mais desses. Abraço
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" A melhor maneira de prever o futuro,é cria-lo" |
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