Veludo Nocturno III

[Jorge Cardoso]

Os Quatro Símbolos ainda estão para vir, nesta partilha nocturna, que para mim começa a ser como uma saga. Colando-me à viagem do eremita do tarot, que aparece na capa do Four Symbols dos Led Zeppelin, assim eu vou despejando para o papel cibernauta que nos une, a nós praticamente irmãos desconhecidos. Partilhamos todos a mesma paixão, a mesma arte, de falar com os nossos membros e através das suas extensões,comunicarmos e transmitirmos os nossos sentimentos, que ardem como ferro fundido e que arrefece duro como o aço, ou que nos enternece como se as notas fantasmas das nossas tarolas fizessem amor connosco. Usamos a nobre matéria que é a madeira para percutirmos as notas soltas ou enquadradas numa melodia, que nos extravasa o espírito...!
Assim como percutimos nas peles, assim a vida nos vai percutindo na nossa alma, tornando-nos mais duros e ao mesmo tempo mais sensíveis ás nuances que vão moldando o nosso viver, nesta passagem, neste planeta. Somos tão grandes na nossa pequenez, sempre na rectaguarda!Trilhamos os nossos caminhos agarrados às coisas triviais da vida, porque assim ela nos obriga e ocasionalmente cruzamos emoções no zénite dos nossos sentidos. Ontem chorei agarrado à pedra que trago ao pescoço, por tudo que ela simboliza, olhei para o percurso da minha vida, para o meu passado, que se projecta no futuro, em que ambos se unem e criam aquilo a que chamamamos presente. É aqui, neste espaço-tempo que vivemos. O presente. Neste presente, neste preciso momento, em que vôo para além dos limites da minha imaginação, ao som de Opeth, "...searching the darkness and the emptiness...", gozo do prazer de estar sózinho neste Fórum, onde todos os meus Amigos adormeceram, uns extenuados pela carga do último concerto, outros porque a biologia humana assim obriga, outros ainda porque se encontram numa rouloute de bifanas em qualquer lugar comum, pelo país fora, a comer tempo, para se deslocarem a casa, ao aconchego das suas intimidades e descansar até amanhã, até hoje. Mais um dia, que para mim ainda vem longe, porque ainda que a claridade da manhã queira vir ao meu encontro, eu cerro-lhe a passagem com os estores do meu recolhimento, até que o bip do meu telefone me acorda para a realidade feita de luz "igniciada" pelos arrancadores das luzes artificiais do tecto, que se mistura com a luz solar que entra pelas janelas. Mais um dia de papelada e processos à cata da verdade e dos culpados, que pretendo descobrir e que me trocam as voltas, por insuficiência de meios e de sorte, para os colocar na barra e que como se não bastasse a luz da Lei, que lhes permite a reconciliação com a sociedade, o próprio acaso se encarregou de os dispersar para tão longe e às vezes, contudo, tão perto... Sem maldade, sem mágoas. Não lhes quero mal algum, apesar de adversários e às vezes inimigos. É apenas uma linha imaginária que nos divide e que às vezes basta cruzá-la com apenas um pé para que nos tornemos incongruentes.
Mas, dizia, que apesar da adorável criatividade do convívio que nos une aqui e ocasionalmente noutras paragens físicas, que não virtuais, como foi na Figueira da Foz, neste momento apraz-me estar sózinho enquanto todos dormem ou não... Gosto de explorar "espaços vazios" à procura de coisas e de gente que neste momento não me apetece encontrar ainda que soubesse onde se encontrassem. Porque basta-me saber que vocês estão por aí algures, vivos e a respirar, ainda que no respirar dos sonhos que as vossas almofadas vão absorvendo... Seria bom podermos, se isso fosse possível, fazermos rewinds e downloads dos sonhos que a "fita do tempo" da nossas almofadas vão gravando na partes inertes das nossas vidas, que no entanto transpiram de vida. O que lá encontraríamos? Espectros das nossas vivências passadas? Amores há muito tempo esquecidos? Calor? Frio? Isolamento? Sofrimento? Prazer? Alegrias? Tudo? Nada...? Espaços vazios, mas mais completos do que algum dia iremos saber, a não ser na nossa última viagem, aquela que não tem bilhete de retorno, nem muito menos nos obriga a fazer transbordo de "comboio".
As viagens de comboio sempre representaram para mim um cavalgar da vida, que trilhamos nos carris debaixo dos nossos passos. Nada mais enigmático que acordar numa estação qualquer e ouvir a voz lacónica, quase catatónica, do "redactor" dos nossos destinos, através do megafone e que ao abrirmos a persiana da janela, verificamos que por breves momentos, não sabemos onde estamos ainda que há segundos o tivessemos ouvido. Confirmamos o nossos bilhetes nos nossos bolsos e aí encontramos a tranquilidade, pois aí sabemos para onde vamos e que não é ali, ainda, que devemos sair. Isso dá-nos serenidade. Todo o Homem precisa de um lugar comum, onde sabe que vai fazer o descanso do guerreiro e onde sabe que tem braços acolhedores à sua espera, ainda que viva sozinho. Contradição? Talvez não. Cabe-nos a nós próprios sabermos onde nos encontrarmos, para o nosso próprio bem emocional. Cabe-nos a nós e só a nós,fazermos o percurso através do vale das sombras e que por mais tenebrosas elas nos pareçam, termos a coragem e a ousadia, mais tarde recompensada, de zombarmos delas. "A sorte protege os audazes!" Então esboçamos um esgar de um sorriso que combate todos os espectros e que nenhum deles se atreve a enfrentar!

[Bugradi]

bolas,os teus textos sao demais

parabens

[xano]

Mais 5 minutos muito bem passados a ler as tuas palavras!

Obrigado!

abraço